sexta-feira, maio 23, 2025
BRASIL E MUNDODESTAQUENOTÍCIAS

Diplomacia Ideológica – A gangue em Moscou

OPINIÃO

Por Luís Ernesto Lacombe (*)

A festa foi marcada para Moscou. Os líderes das democracias ocidentais relevantes não foram chamados. Os democratas de verdade que receberam convite tiveram que recusar. O anfitrião era um ditador: Vladimir Putin, da Rússia. Os convidados especiais também: Xi Jinping, da China, Miguel Díaz-Canel, de Cuba, Nicolás Maduro, da Venezuela… Correram ainda para a celebração chefes de autocracias – países sem liberdade democrática e com repressão à mídia e à oposição – na Ásia, na África… E, claro, o Brasil do PT estava lá. Lula, inclusive, pôde matar a saudade de seu grande “companheiro” Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina. Foi uma reunião de “gente fina”, da “melhor estirpe”, mal trabalhada em muita propaganda e aplaudida por uma corja de idiotas úteis espalhados pelo mundo.

A festança de Putin comemorou os 80 anos da vitória da antiga União Soviética sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. O ditador aproveitou a data para incitar o patriotismo entre os russos. Seu aparato de propaganda vende a ideia de que o regime está lutando contra o “nazismo” na Ucrânia da mesma maneira que fez na década de 1940. Putin diz que quer “desnazificar” o vizinho, que tem um judeu na presidência, Volodymyr Zelensky, que também não é nenhum santo… É quase a perpetuação de mentiras, que são a base de qualquer comunista, mesmo que ele tenha ado por metamorfoses, ou simplesmente vestido disfarces ineficientes, incapazes de enganar uma pessoa bem informada, com senso crítico preservado e mais de dois neurônios.

Um pouco de história deveria despertar pelo menos os ingênuos não tão preguiçosos e os que são manipulados, considerando que estão em transe, mas não entregues totalmente. Ora, as afinidades ideológicas e pragmáticas entre comunismo e nazismo são inegáveis. Nazismo e comunismo rezavam pela mesma cartilha. Os dois acreditavam que, para criar a “nova ordem mundial”, era necessária a eliminação de certas categorias de pessoas. Os fundadores do comunismo, Marx e Engels, “antissemitas viscerais”, sempre defenderam o genocídio… E os eslavos eram o alvo principal. Depois, vieram Hitler e Stalin, que se iravam, tinham uma aliança. Hitler sentia “respeito incondicional” por Stalin, que ele chamou de “gênio”. Stalin só confiava em um homem, e esse homem era Hitler… Isso, claro, até a invasão nazista da União Soviética. Aliás, a ascensão militar nazista só foi possível graças à colaboração soviética.

E o fascismo? Acabou virando uma referência vaga a qualquer coisa reprovável, uma “patologia política, uma excrecência de direita, reacionária e desumana”. Pois bem, quais eram as grandes divergências doutrinárias entre o fascismo e o marxismo-leninismo? Houve, sim, uma discordância pontual sobre a participação da Itália na Primeira Guerra Mundial, mas os dois tinham uma origem revolucionária e marxista. Só que os comunistas foram hábeis. Eles procuraram, desde o início, empurrar conceitualmente os fascistas para a “direita” e o “reacionarismo” e se colocar entre os “progressistas e humanistas”, aqueles que lutam por uma “causa justa, que têm força e caráter e sensibilidade social”, mesmo promovendo a pobreza, exterminando a liberdade e tendo matado mais do que qualquer outro grupo ideológico. E por que quase ninguém se lembra de que milhões de pessoas ainda sofrem e perecem sob as garras do comunismo?

A Segunda Guerra acabou botando do mesmo lado democracias como os Estados Unidos e a Inglaterra e a ditadura soviética… Eram os aliados virtuosos contra o fascismo e o nazismo. E isso gerou uma tremenda confusão, que Vladimir Putin explora até hoje. Em sua celebração, ele quis mostrar ao mundo que não está isolado… Sim, há muita gente ruim ainda ligada a ele, aceitando sua, digamos, “liderança alternativa do Ocidente”. Putin repete Stalin, que, como escreveu o sociólogo Flávio Gordon, “usou o nazifascismo como um tapete sob o qual, brandindo sua carteirinha de ‘antifascista’, escondeu toda a sujeira do regime soviético”.

Comunismo, fascismo, nazismo, tudo isso é lixo, mas, inacreditavelmente, chegamos a um ponto em que tratar alguém como nazista ou fascista é uma ofensa grave, mas Lula pode se orgulhar de ser chamado de comunista. As narrativas, as mentiras, tratadas e usadas em propaganda, em marketing, são a base de tudo. Lula também não abre mão disso. Sua diplomacia pode até afirmar que a visita ao ditador Vladimir Putin, a quem escreveu “cartinha de amor” secreta, depois das últimas “eleições” russas, foi para “sinalizar a independência da política externa brasileira”, mas todo mundo sabe de que lado o petista está, e é sempre do lado errado.

No editorial “Lula trai a memória da Segunda Guerra”, o jornal O Globo fez críticas merecidas. O texto diz o seguinte: “É um erro a decisão de Lula de participar, ao lado do russo Vladimir Putin, das celebrações do Dia da Vitória, que marca o 80º ano do triunfo sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra. Nenhum líder de democracia ocidental relevante aceitou dar apoio público ao responsável pela invasão da Ucrânia, maior agressão militar em solo europeu desde, justamente, o fim da Segunda Guerra”. No Estadão, William Waack fez a mesma crítica. O artigo dele termina assim: “Nossos soldados lutaram e morreram pela democracia. Celebrar essa vitória ao lado de Putin é dar um tapa na cara deles”.

Lula tem a capacidade de “relativizar” quase tudo. Ele sabe muito bem que a queda do Muro de Berlim, o colapso do Partido Comunista Soviético, que nada disso foi um acidente. O comunismo simplesmente se disfarçou: saiu a “luta de classes”, entraram os “interesses universais”… Os comunistas atuais, como o petista, falam em “bem comum da humanidade, segurança ambiental, desarmamento”. Vivem alertando para “problemas globais e sistêmicos que ameaçam a humanidade”. Defendem o globalismo, um governo mundial tocado com mão de ferro por aqueles que juram defender a liberdade, a democracia, mas vivem impondo controles estatais sufocantes. São várias gangues envolvidas nisso, e o Brasil do PT resolveu fazer parte da mais perigosa, participando de festas em Moscou, em Pequim, em navios de guerra do Irã… E me dá vontade de gritar sem parar as palavras do escritor britânico George Orwell: “O mal de todo esquerdista desde 1933 foi ter querido ser antifascista sem ser antitotalitário”.

(*) Luís Ernesto Lacombe é jornalista e escritor. Por três anos, ficou perdido em faculdades como Estatística, Informática e Psicologia, e em cursos de extensão em istração e marketing.

Fonte: Gazeta do Povo