Um causo do futebol alemparaibano: Miúdo, o craque boêmio

No início da década de 1960, Miúdo era um dos destaques do Esporte Clube Independente. Com 1,85m, atuava como quarto-zagueiro e jogava o fino da bola.
Além de jogar futebol, Miúdo trabalhava na Rede Ferroviária Federal, o que lhe proporcionava uma vida tranquila. Gostava da noite e se vestia bem, de preferência com ternos de linho S120 (seus favoritos), confeccionados pelo treinador do Indepa, o alfaiate Sílvio Caçador. Dançar era sua grande diversão, e ao som de tangos e boleros rodopiava com suas “namoradas” pelos bordéis da cidade.
O maior adversário do Independente era o Ciap, que tinha sua sede no bairro de Porto Novo, justamente onde Miúdo se divertia. Assim, a turma do Ciap sabia de todos os os de Miúdo.
Na ocasião em que Independente e Ciap estavam para jogar a expectativa era grande por toda a cidade. Só se falava do clássico!
Sabendo com quem Miúdo estava “namorando” na ocasião, o pessoal do Ciap resolveu oferecer à “moça” uma recompensa para que ela o “matasse” na véspera do jogo. Negócio combinado e o Miúdo recebeu um tratamento vip que varou a madrugada. Assim, o craque só chegou em casa, na Praça da Bandeira, por volta das cinco da manhã; e a turma do Ciap, no domingo, por volta das nove horas, foi conferir:
– Como foi?, perguntaram.
Ela respondeu:
– Ficamos até as cinco horas. Ele saiu daqui mortinho.
Gratificaram a “moça” e foram esperar pelo jogo que seria realizado naquela tarde de domingo, no Estádio Municipal.
A hora do jogo ia se aproximando e a galera chegando ao estádio que estava com suas dependências literalmente tomadas pelos torcedores. Por volta das 14 horas, como Miúdo não havia chegado, os dirigentes do tricolor alemparaibano começaram a ficar preocupados. Enquanto isso, a turma do Ciap já esfregava as mãos de contentamento. “O homem ainda não apareceu, deve estar apagadão”, diziam alguns ciapeanos.
Com a demora do craque, diretores do Independente resolveram mandar um automóvel até a sua casa para buscá-lo. Chegando lá o motorista e um dirigente encontraram Miúdo acordando com a cara toda amarrotada que tranquilamente mandou:
– O que houve? Vocês pensaram que eu não ia jogar? Dormi por volta da cinco horas e pedi para mamãe me acordar às onze. Almocei e voltei para mais um cochilo. Estou pronto, disse Miúdo.
Com toda a calma do mundo, o que lhe era peculiar, vestiu seu terno de linho branco S120, pegou as chuteiras e foi à luta.
Final da história:
Jogão de bola, Miúdo foi o craque da partida e o Independente saiu vencedor.
E a turma do Ciap está sem entender até hoje o que aconteceu…
Fonte: Jornal Além Parahyba – Edição nº 415 – 15/02/2007 – Coluna de Esportes – José Oscar