quinta-feira, junho 12, 2025
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Médicos cubanos no exterior vivem condições de escravidão, dizem ONGs

Médicos cubanos participam de ato de despedida do grupo, momentos antes de partir para a África do Sul, no início da pandemia de coronavírus, em 2020| Foto: EFE/Ernesto Mastrascusa

As ONGs Prisoners Defenders, Outreach Aid to the Americas e Fundação Internacional para a Liberdade (FIL) denunciaram na quarta-feira (25) na Cidade do México que médicos cubanos em missões estatais no exterior trabalham em condições de “escravidão moderna”.

A denúncia, baseada em um relatório apresentado no último mês de janeiro, ocorre em meio à polêmica sobre o recente anúncio sobre a contratação de 500 médicos cubanos pelo governo mexicano, uma decisão criticada pela oposição e pelas faculdades de medicina do país.

As ONGs argumentam que as chamadas missões de internacionalização cubana – das quais participam principalmente médicos, mas também outros profissionais – são a maior fonte de divisas do país.

“É aí que reside o poder econômico de Cuba, na escravidão”, denunciou Javier Larrondo, presidente da Prisoners Defenders. Segundo as estimativas, essas missões arrecadaram até US$ 8,5 bilhões por ano, conforme a denúncia enviada em 2019 ao Tribunal Penal Internacional (TPI) e à ONU por essas ONGs.

Larrondo detalhou que, em 2020, em uma missão anterior de médicos cubanos ao México, cada um dos 585 participantes recebeu US$ 724 por três meses de trabalho (US$ 400 no México e o restante no retorno a Cuba), enquanto as autoridades mexicanas confirmaram que pagaram a Cuba US$ 10.750 por cada um.

Por sua vez, a vice-presidente do Parlamento Europeu, Dita Charanzova, comentou que “mais de 80% do dinheiro que Cuba arrecada para as brigadas médicas vai para o regime e não para os médicos cubanos”.

Apesar das críticas, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, defendeu a missão. “Por que não ter os médicos? Que os conservadores, egoístas, hipócritas saibam que não vamos dar um o atrás”, declarou López Obrador em entrevista coletiva no último dia 18 de maio.

O Ministério da Saúde mexicano informou em meados deste mês que o acordo, assinado durante a recente visita de López Obrador a Cuba, é válido por dois anos e pode ser modificado por mútuo consentimento ou rescindido a qualquer momento.

A denúncia

A denúncia publicada por essas ONGs em janeiro tem mais de mil depoimentos e, entre as constatações, destaca-se que 75% de seus participantes afirmam que não foram voluntariamente às missões.

Além disso, 87% asseguraram que fatores econômicos influenciaram sua decisão e 41% sofreram algum tipo de assédio sexual por parte de funcionários do Estado – conhecidos como chefes de missão – que os acompanharam no trabalho.

As associações destacaram que, de acordo com a chamada “lei de oito anos”, os profissionais que deixam sua missão prematuramente ou não retornam imediatamente após concluí-la estão proibidos de entrar em Cuba durante esse período.

A coletiva de quarta-feira mudou de local pouco antes do horário previsto para começar. O evento iria acontecer no Museu da Memória e da Tolerância. Os convocadores alegaram ter recebido “extorsões do Partido Comunista do México” e o estabelecimento disse que não poderia garantir a segurança.

Larrondo também declarou que recebeu o pedido de que não criticassem o presidente López Obrador. “Restringir a liberdade de expressão não pode ser a bandeira de nenhum partido que se diga ser de esquerda”, lamentou.

Fonte: Gazeta do Povo com Agência EFE